quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A Família Savage



A FAMÍLIA SAVAGE (The Savages, 2007, 114 min)
Produção: Estados Unidos
Direção: Tamara Jenkins
Roteiro: Tamara Jenkins
Elenco: Laura Linney, Philip Seymour Hoffman, Philip Bosco, Peter Friedman, David Zayas, Gbenga Akinnagbe, Cara Saymour, Rosemary Murphy, Tonye Patano.

Como normalmente ocorre a um recém-nascido, “A Família Savage” (2007) começa a engatinhar não especificamente em seus primeiros minutos de projeção, mas sim após alguns atos que nos explicam melhor o que acontece naquele lar onde vivem Leonard Savage (Philip Bosco) e sua mulher, Doris Metzger (Rosemary Murphy). Entretanto, não em vão, as cenas iniciais servem para nos apresentar e nos familiarizar ao estilo de vida dos mesmos, no Arizona, numa escolha bastante pertinente da diretora Tamara Jenkins, que distribui o seu cartão-de-visita com uma sequência em câmera lenta de idosos praticando algum tipo de atividade (dança, ginástica, bocha etc.), e, em distinção disso, ao adentrar na casa do casal, observa-se um cenário completamente desanimador, no qual o senhor Savage é um velho rancoroso e sua companheira, uma senhora a sofrer com doenças.

A quilômetros dali, em Nova Iorque, o telefone de Wendy Savage (Laura Linney) toca para avisa-la de que seu pai está enlouquecendo, e então ela deixa o irmão, Jon (Philip Seymour Hoffmann), também sabendo da crise. Por meio de detalhes sutis, a diretora vai deixando transparecer a história da família, sujeitando seus espectadores ao drama do abandono sofrido pelos filhos que vivem separadamente e são pessoas comuns, que lutam por um lugar ao sol – o que os difere de serem como “filhos exemplares”, contudo, é a distância, tanto um do outro quanto de seus pais, dos quais nem sequer sabem o paradeiro.

Para tentar entender melhor toda a situação, os irmãos usam um jogo de palavras que durante todo o filme se torna pertinente em imagens: Wendy metaforiza a “crise” pela qual passam dizendo “estar na cor laranja” (o uso é como um grau de problematização), mas Jon é mais otimista, já que classifica apenas como um “alerta”, isto é, relacionando a uma cor mais fraca, no caso, o “amarelo”. Na cena posterior, a direção de arte faz uso das mesmas cores em uma bela oportunidade, já que se torna a transição do “alerta” para a “crise”, agora concretizada – um salão-de-beleza com as funcionárias vestidas em roupas amarelas abriga a dona Metzger que, após ter sua unha pintada de vermelho, cai dura, morta.

Interessante lembrar que, antes mesmo dessa cena, ainda na casa do sr. Savage e da mulher, a força e domínio do amarelo era muito superior a qualquer outro tipo de cor na paleta da fotografia. Futuramente, no hospital, o azul do ambiente em geral se assemelha ao das camisas dos irmãos e da propaganda que passa na televisão naquele momento, mas ainda assim existe a urina do velho para quebrar com tudo que podia estar melhorando; ainda no mesmo local, percebe-se o grau acadêmico de Jon, um “doutor”, mas não o tipo de doutor que precisa seu pai (seria essa uma metáfora para o fracasso do mesmo fora de sua profissão?).

A relação entre os cônjuges também é outro elemento a se atentar. Jon separou-se recentemente de sua mulher com quem viveu por três anos e parece não ligar, Wendy relaciona-se com um homem que não lhe dá mais prazer, e o pai de ambos acabou de se tornar viúvo. É como se uma praga tivesse pousado sobre a família. E, quando parecia ser impossível decair mais ainda, Leonard perde sua morada.

Assim, cheio de conexões propositais para com o emprego das cores, “A Família Savage” demonstra ser um filme muito bem pensado, com diversas outras informações a serem descobertas. O drama exacerbado, a porção e a avalanche de coisas ruins que pairam pelos personagens, além de suas aparentes (des)preocupações fazem com que o resultado da experiência seja um tanto quanto positivo. Quero dizer, não no sentido emocional.  

INDICAÇÕES:
1. Melhor Atriz: Laura Linney
2. Melhor Roteiro Original: Tamara Jenkins

por Bruno Barrenha


Um comentário:

Kamila disse...

Para mim, esse filme se sustenta nas duas grandes atuações de Phillip Seymour Hoffman e Laura Linney, dois dos grandes atores que temos atualmente.