quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Piaf - Um Hino ao Amor



PIAF – UM HINO AO AMOR (La Môme, 2007, 140 min)
Produção: França | Estados Unidos
Diretor: Oliver Dahan
Roteiro: Oliver Dahan e Isabelle Sobelman
Elenco: Marion Cotillard, Sylvie Testud, Emmanuelle Seigner, Jean-Paul Rouve, Gérard Depardieu, Clotilde Courau, Jean-Pierre Martins, Manon Chevallier, Pauline Burlet, Pascal Greggory.

O que acontece com “Piaf – Um Hino ao Amor (2007), principalmente por se tratar de uma saga real, não acontece em nenhuma outra obra fílmica que eu já tenha visto. Grande colecionador de críticas negativas, o trabalho do diretor Olivier Dahan peca justamente por fazer o caminho contrário desse tipo de filme que visa contar a história de uma personalidade real, ainda mais Edith Piaf, um ícone aplaudido no mundo inteiro e uma rainha dentro da França. Dahan não permite o encontro necessário com a artista, mistifica ao extremo a mulher de vida intensamente sofrida tornando-a dificilmente palpável. É um ser além do nosso entendimento e fora de uma realidade feliz que nós seres humanos buscamos o tempo todo priorizar. Compreensível até certo ponto.

A compreensão vem também desse tsunami que foi a vida da artista francesa. Nascida em meio a Primeira Grande Guerra, “La Môme”, como Edith é chamada carinhosamente pelos franceses, teve que lutar para sobreviver desde muito criança. Primeiro o abandono por parte dos pais, a menina cresceu sob os precários cuidados da avó e com forte influência dos beberrões e das prostitutas que somavam às ruas de Paris. Na infância passou por sérias doenças e chegou a ficar temporariamente cega, fadada ao triste destino que se aplicava cada vez com mais força na sua frente. Não amou muito, preferiu ser amada e venerada, as vezes que amou também perdeu com força ainda maior e transcendendo o suportável, vide o fim da vida da estrela parisiense.

O filme aborda com muito sentimentalismo todas essas passagens da vida de Piaf, foca sem pudor no sofrimento e deixa o espectador o tempo todo à beira de um precipício, pronto a se lançar nesse espaço consumido por dor e sem perspectiva de volta. E não há mesmo nenhuma intenção em ser feliz. Dirigindo com a flecha trespassada sob o roteiro, Dahan passa por cada um desses eventos de infelicidade, da cegueira até morte do grande amor da vida de Piaf, tudo feito para comover, para deixar quem assiste de boca aberta e ativar nosso senso de compaixão.

O tempo, que não é linear e tem belas construções da época, corrói a mulher de voz marcante. O principal inimigo de Edith Piaf fica a ser sua capacidade de autodestruição, sua tendência a ser MAIS artista cada vez que passa por um período de dor intensa. Compreensível novamente o caminho que opta Dahan. Sem dúvida, são esses momentos de perda dos sentidos que transformaram Edith Piaf na lenda que ela é. Cantava como ninguém, fazia sentir e ser sentida como poucos. Sim, justamente porque tudo o que saia de sua boca nada mais era do que a verdade nua e crua.

Piaf, o filme, tem um trunfo, o mais grandioso da década: Uma atuação assombrosa de quem dá vida à artista Edith Piaf. Marion Cotillard não era muito conhecida antes de sua caracterização da cantora francesa, saiu do anonimato direto para o palco do Kodak Theatre ostentando nada mais nada menos que um Oscar de Melhor Atriz. Decerto, seu trabalho é um delírio a parte, é tudo o que Dahan deixou a desejar e, por isso, por Marion, o filme vale seus 140 minutos de projeção. É impressionante como a primeira artista se funde na segunda voltando então claramente a primeira. Se não deu pra entender, é como se Marion fosse verdadeiramente Edith Piaf e ali nunca tivesse existido uma Cotillard. É trabalho de gala, talvez o Oscar menos questionável dos últimos vinte anos.

Sobre a obra, então, não sobra muito o que criticar ou diminuir. É o que cada um sente ao se deparar com a vida de sentidos apurados que consumiram o mito durante seus quarenta e tantos anos de pura emoção e devoção a vida.

INDICAÇÕES (2 vitórias):
1. Melhor Atriz: Marion Cotillard – venceu
2. Melhor Figurino: Marit Allen
3. Melhor Maquiagem: Didier Lavergne e Jan Archibald – venceu

por Gustavo Pavan

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